Não demorou para chover críticas ao técnico botafoguense. Tanto dizendo que ele foi infeliz na declaração quanto que ele se posicionou de forma errada afirmando que um técnico estrangeiro no Brasil não deve treinar no Brasil. O apontaram como protecionista, corporativista (opinião de Mauro Cezar Pereira que traz uma ótima abordagem dos cursos na Argentina e Portugal), e até mesmo xenófobo e que também já fez o mesmo.
Contudo, na minha opinião, as críticas direcionadas à declaração de Jair Ventura é que foram errôneas. Para justificar, faço uma análise de cada parte do que ele disse.
"Não que eu seja contra os estrangeiros trabalharem aqui, mas estamos perdendo mercado lá fora. Daqui a pouco, perdemos o interno". Ao meu ver Ventura pontuou o fato de, nos últimos anos, ter uma preferência por técnicos de fora como a salvação do futebol no Brasil. É só pegarmos os últimos anos ao ver o Palmeiras tentar com Gareca, o São Paulo com Osorio e Bauza, Paulo Bento no Cruzeiro, entre outros. E isso tem aumentado cada vez mais.
Técnico Jair Ventura Foto: André Durão |
Ao mesmo tempo, há a questão do quanto um técnico brasileiro se prepara para treinar um clube, algo que melhorou muito nos últimos anos, mas ainda está longe de outros países como Argentina. Mas e qual é o apoio da CBF para isso? O caro curso que a entidade realiza, que não tem aprovação da UEFA e ainda corre atrás de aceitação da Conmebol, certamente não é um deles.
“Eu não vejo de uma maneira legal. Respeito a decisão, ele é um grande treinador, acho que pode dar certo. Mas estou falando em nome dos treinadores, como jovem e brasileiro. Isso é muito ruim”. Demitir Zé Ricardo, cara nova e moderna assim como Ventura (e que teve bom desempenho no clube, disputando o título brasileiro no ano passado e conquistando o carioca este ano), mostra o que é a relação do futebol brasileiro com os técnicos, exigindo-os a busca por resultados imediatos, ignorando os bons resultados conquistado anteriormente.
Muitos técnicos jovens de profissão (assim como Jair Ventura) surgiram nos últimos anos e marcaram presença em grandes clubes. Roger Machado, Fernando Diniz, Doriva, Milton Mendes, Eduardo Baptista, Rogério Ceni e Carille, são alguns deles. Mas, exceção feita ao técnico do Corinthians, quanto tempo foi dado a esses novos técnicos dentro de um clube? Sabemos que isso não ocorre nem com os "medalhões" que viram soluções de última hora (Levir Culpi no lugar de Roger Machado ou quem garante que Dorival Júnior segue até o fim do ano se o time não sair da zona do rebaixamento?), tudo em dependência do resultado.
“Hoje eu não posso trabalhar no exterior porque não tenho licença. E qualquer pessoa pode trabalhar no Brasil. Então isso não é legal. Desejo sorte ao Rueda, mas temos que repensar. Estão tirando o espaço dos outros que querem trabalhar também”. O técnico brasileiro não é bem visto nem no Brasil, cá entre nós, e muito menos lá fora. Algo muito diferente dos técnicos argentinos (exemplos não faltam, mas muito devido porque desde meados do século passado a confederação do país oferece um curso aos treinadores argentinos). E mesmo que possa faltar competência de muitos técnicos brasileiros, também falta é apoio para os mesmos.
A parte em que o técnico do Botafogo diz que "estão tirando o espaço dos outros que querem trabalhar", certamente foi o cerne de todas as críticas dirigidas a ele, dando a entender o tal "protecionismo" do qual o acusaram. E aí ele pode até ter se posicionado de forma errada - porque mesmo que isso tenha sido frequente nos últimos anos o espaço para novos técnicos tem tido, pois o que falta é tempo de trabalho - mas nada que justifique as críticas exageradas e o mau entendimento das declarações de Jair Ventura.
Tanto é que se retratou depois, explicando melhor a situação. "Eu não estava falando da questão de vir estrangeiros, mas sim de ir. Exigem uma licença para o técnico brasileiro treinar fora do País. Se exigem para treinar fora do País, porque não é exigido uma licença para o técnico estrangeiro treinar aqui no Brasil".
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