domingo, 30 de junho de 2013

Ainda não somos os melhores do mundo, mas já ganhamos deles

Não vi com atenção o primeiro gol do Brasil. Estava ligando para a GVT porque o sinal não estava funcionando na televisão da sala. Afinal, final de campeonato se assiste na TV para quem não tem condição de ir ao Estádio e gosta de festa pra assistir em qualquer "telão", que pode ter por aí. De qualquer forma, se o gol do Brasil saiu com menos de dois minutos de jogo, não foi por acaso: foi um misto de tática, competência, vontade e sorte.

A sorte da bola sobrar e não bater nos braços de um Fred, que mesmo caído, colocou o Brasil em vantagem, coroou a percepção meio óbvia e que tantos falavam que Luiz Felipe Scolari fez o time brasileiro seguir à risca: marcar o "tiki taka" espanhol sob pressão. Nessa hora, já me sentia triste por estar com o telefone colado na orelha e a seleção quase marcar (dessa vez com meu jogador preferido do time) Oscar, que dentro da área chutou rasteiro pelo lado direito de Casillas. 
Brasil leva pela terceira vez consecutiva a Copa das Confederações FOTO: Daniel Ramalho/Terra
Pouco antes a torcida gritava "O campeão voltou". Eram quase 73.531 mil vozes no Maracanã apoiando a seleção brasileira. O mesmo "Maraca" no qual 199 854 mil pessoas sofreram com o "Maracanazo" em 1950 e passou por uma grande e contestada reformulação para se adequar ao "Padrão Fifa". Hoje, não era só quem estava no Maracanã que viu a seleção, mas sim o Brasil inteiro, o mesmo Brasil que cerca de uma semana antes protestava com veemência, apoiava o time. O mesmo Brasil, mas certamente (assim espero) não as mesmas pessoas. 

Com 13 minutos, as vozes gritaram "Uuuuhhh", quando Paulinho viu o goleiro adiantado e tentou o chute por cobertura, chute que Casillas defendeu com segurança. A Espanha estava surpresa, acuada e pressionada. Pressionada por um estádio inteiro e que só chegou ao gol de Júlio César aos 19 minutos num chute de Iniesta. Antes ou depois desse lance, Neymar sentiu um toque por cima, caiu e segurou a perna. Era contra-ataque, o passe foi meio forte, mas dava para correr e alcançar, preferiu ver o amarelo para Arbeloa.

Depois, mais duas chances para o Brasil, uma com Fred e outra com Hulk, de falta, mas o dois a zero quase saiu no contra-ataque que Neymar partiu com a bola e tocou precisamente para Fred, que do jeito que veio, chutou de primeira, mas não conseguiu tirar de Casillas e o chute foi no meio do gol. Mas oito minutos depois, aos 40, a Espanha pegou a defesa brasileira desprevenida e Mata tocou para Pedro sozinho na direita. O camisa onze ajeitou para tocar no canto certo e tirou de Júlio César, mas David Luiz estava lá para tirar a bola praticamente de dentro do gol. A torcida vibrou, mas apenas Júlio César agradeceu, o problema foi lá atrás e ele não poderia ter acontecido.

Naquela altura, se o Brasil levasse o gol, a Espanha iria - a poucos minutos do intervalo - empolgada para o segundo tempo. E a história que se concretizou no final, poderia ser outra. Poderia ser um Brasil e Holanda em 2010. Poderia. Porque em 2010, havia vuvuzela. Em 2013, e em 2014, havia torcida. A torcida que cantou e apoiou a seleção. Em número muito maior, pelo Brasil inteiro, a "torcida" era para ver um Brasil melhor e o meio para isso acontecer, foram protestos e manifestações.

Mas como Ronaldo disse, o Brasil precisava marcar mais um para deixar o Brasil empolgado e não dar chance para os espanhóis. Dito e feito. No contra-ataque, Oscar tocou para Neymar na esquerda que na linha da grande área devolveu para Oscar. O camisa 10 dominou e esperou pelo momento certo para tocar para Neymar que tinha ido à frente da linha de defensores da Espanha e depois voltou, saindo do impedimento para dominar ajeitando a bola e chutar forte de esquerda, sem chances para Casillas. 

Era o gol que colocava o Brasil com uma mão na taça - mas ainda havia 45 minutos e não foi a toa que a Espanha venceu um mundial e duas Eurocopas. A imagem das intermediações do Maracanã - onde antes do início da partida havia sido local de "guerra" entre polícia e manifestantes - apenas com os carros da polícia, também chamam a atenção. Até aqueles manifestantes pararam para ver o jogo? Não sei. Mas espero que não parem (os protestos corretos) com uma taça levantada no país do futebol, mas país também da injustiça.

Injustiça que não ocorreu com a Espanha, como nas disputas de copa do mundo anteriores, no qual a "fúria" ou "roja", como preferirem, perdeu com más atuações dos árbitros. Apesar de algumas faltas marcadas e amarelos sofridos - o que originou a saída de Arbeloa e entrada de Azpilicueta. E o lateral deu o espaço necessário para Fred fazer o terceiro com dois minutos de jogo e praticamente sacramentar a vitória brasileira:  se o placar fosse revertido, não seria necessário ser jogo de Copa do Mundo para ser algo pior do que o Maracanazo. Há um ano da copa, a moral brasileira seria muito abalada. Mas não foi. Voltando ao jogo, Hulk recebeu de Marcelo, após Oscar se trombar espanhol e passou para Neymar que passou da bola, deixando para Fred que de primeira, na linha da grande área, tocou colocado e rasteiro no canto esquerdo do gol.

E a torcida voltava a cantar "O campeão voltou". E o Brasil, depois de muito tempo, voltava a jogar muito bem, isso há um ano da copa. O mesmo Brasil que parou para sair às ruas durante toda a Copa das Confederações para protestar contra tudo de errado que ocorre há anos no país. E diante de apoios, críticas desnecessárias "repensadas" e seguidas de apoios, o país do futebol, o país da copa, era o país dos manifestantes que nessa tarde altura não queriam nem a copa, queriam um país mais justo, digno e correto.

E alegre. Mais alegre do que é, mesmo diante das dificuldades. Alegre como seguiu os minutos seguintes da partida. Alegria que parou quando Marcelo tocou na perna de Jesús Navas dentro da área e o mesmo se jogou, como se fosse Neymar. Pênalti para o time de Xavi e Iniesta, Torres e Mata, mas que o zagueiro Sérgio Ramos bate. Pra fora. O chute passou perto da trave, se fosse no gol, Júlio César poderia pegar o chute do mesmo jogador que bateu bem nas penalidades fatais contra a Itália.

Três minutos depois a Espanha chegou num chute de Iniesta. O Brasil respondeu em seguida. De Thiago Silva para Fred no meio campo, para Neymar que lançou de primeira Hulk, que tentou por cobertura, mas Casillas já estava bem em cima do lance. A torcida já gritava "Olé" aos 18 minutos de jogo, quando Neymar fez Marcelo correr até a linha de fundo e o viu tentar o gol, ao invés de cruzar para Fred na área, a função de um lateral. Quatro minutos depois, a cor que quase sempre aparece em jogos como esse. Contra-ataque da seleção, dois contra dois, Neymar com a bola, Fred do outro lado atrás de Jordi Alba, seu marcador, mas era Neymar. O camisa 10 tenta se livrar de Piqué partindo pelo seu lado esquerdo e, mais rápido, é parado por baixo pelo zagueiro. Expulso. Na cobrança de falta de Neymar, a bola passou perto, por cima do gol.

Nem Jesús Navas que havia entrado no início do segundo tempo e depois David Villa, fizeram a diferença no time espanhol. Enquanto que no Brasil, Hulk, Fred e Paulinho, saíram satisfeitos e agraciados pela torcida, dando lugar a Jadson, Jô e Hernanes, respectivamente. Depois o que eu vi foi Júlio César aparecer. Primeiro num chute de Pedro, dentro da área. Depois no chute colocado de David Villa, já aos 41 minutos. Era o último suspiro da "fúria". O fôlego havia acabado, enquanto que no time do Brasil, mesmo marcando sob pressão, em cima, jogando com vontade, com raça e correndo do início ao fim, o fôlego sobrava, muito pelo mar amarelo presente na arquibancada do Maracanã.

O novo Maracanã. Estádio que foi palco do retorno do bom futebol da seleção brasileira, um futebol que há muito tempo não se via e a muito tempo se pede. Um futebol que levantou a quarta taça da Copa das Confederações e que espera não cair na maldição do torneio, que ainda não coroou o vencedor com a conquista da Copa do Mundo. 

*Não parou por aí, amanhã tem mais. 

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