quinta-feira, 17 de julho de 2014

Qualquer que fosse o resultado, o Brasil teria de acordar

A humilhação que o Brasil sofreu para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo foi absurdamente incomparável com qualquer outro resultado em qualquer outra época do futebol brasileiro e mundial de clubes e seleções. A mais vexatória derrota da seleção brasileira chamou a atenção de todos para o que é o futebol brasileiro hoje. No entanto, isso deveria ser revisto qualquer que fosse o resultado em toda a esfera futebolística, do campo a organização. Algumas demandas já são feitas pelo Bom Senso F.C., e elas continuariam mesmo se o país não vencesse o mundial. 

Primeiro que futebol é apaixonante também por ser imprevisível. Mesmo assim, algo certamente seria questionado e muitos porquês seriam perguntados e tentados serem respondidos, caso o Brasil não vencesse a Copa do Mundo como país-sede.

Segundo que uma derrota normal para a Alemanha, por dois ou três a um, evidenciaria o fraco futebol que a seleção apresentou durante o torneio. No próprio jogo contra a Alemanha, até os dez minutos quando o Brasil surpreendentemente ficou mais com a bola, a seleção deu quase dez lançamentos para o ataque – depois Muller fez o primeiro gol alemão aos onze minutos. Para dar uma análise mais precisa, teria de rever ao menos o início do jogo, mas todos viram o quanto a seleção utilizou deste artifício durante a copa. A máxima parecia ser “lança o Neymar que o menino resolve”. 
Seleção brasileira posta para foto antes do vexame contra a Alemanha FOTO: Rafael Ribeiro/CBF
É evidente que o Brasil foi um mais que isso, mas nada comparado a outras seleções e principalmente ao futebol apresentado pela campeã desta copa. Pode-se observar que de praticamente todos os gols do Brasil, nenhum saiu de uma jogada trabalhada. É claro que isso também é variável do jogo – Ochoa pode ter feito uma grande defesa numa jogada bem trabalhada pelo time de Felipão –, mas ainda é muito pouco para quem fez onze gols nesta copa.

Relembrando. No primeiro jogo contra a Croácia, Oscar roubou e lutou pela bola no meio de campo, passou para Neymar que chutou de esquerda e marcou. O segundo saiu a partir de um pênalti inexistente em Fred, e o terceiro em outra roubada de bola que Oscar aproveitou e marcou de bico de fora da área. 

Após o empate sem gols contra o México, contra Camarões foram quatro tentos. No primeiro, Luiz Gustavo roubou a bola na lateral, foi até a linha de fundo e cruzou para Neymar marcar. O segundo saiu com um chutão de David Luiz para o ataque, no qual o lateral camaronês Nyom recuou mal, nos pés de Marcelo que tocou para Neymar livre (no momento seu marcador era Nyom) fazer. No terceiro gol na partida, Fernandinho aproveitou a sobra do cruzamento do Neymar, abriu o lance para David Luiz no lado esquerdo que cruzou para Fred marcar. 

Leia mais:
- Relembre a derrota para o Paraguai na Copa América

Camarões já estava eliminado e o quarto gol foi uma mostra disso. A falta rápida cobrada na defesa do time africano foi parado após a roubada de bola de Oscar – campeão neste quesito na competição. Fernandinho dominou, tabelou com Fred e marcou o único gol da copa no qual o centroavante serviu como pivô. 

Nas duas partidas seguintes na fase eliminatória, o emocional dos jogadores foi muito questionado depois da disputa por pênaltis contra o Chile (lembrando que na última vez que a seleção enfrentou as penalidades não marcou um gol sequer contra o Paraguai na Copa América), e surgiram apenas gols de zagueiros em lances de bola parada. 

Contra o Chile, o único gol saiu de uma cobrança de escanteio que David Luiz colocou pra dentro (ou o zagueiro chileno). Contra a Colômbia, uma seleção mais aberta que os chilenos, Thiago Silva marcou após cobrança de escanteio e David Luiz em ótima cobrança de falta, em um dos momentos raros da categoria brasileira nesta copa. 

Apenas o gol de honra contra a Alemanha saiu em um lançamento para frente. Depois de Ozil perder um gol cara a cara com Júlio César, com a bola em jogo o lançamento de Marcelo encontrou Oscar na ponta esquerda que trouxe para o meio e fez. Concluindo: roubada de bola, bola parada e lançamento nunca devem ser as únicas opções de se fazer gol para uma seleção pentacampeã de futebol, e o Brasil precisava de muito mais que isso para ser hexa.

Terceiro e mais importante, o que realmente aconteceu – a humilhação. Os sete a um foi o pior resultado em toda a história do selecionado brasileiro. Se a catástrofe de 1950 na primeira copa realizada pelo país tinha nova chance de ser apagada, ela foi, como definiram muitos jornais no dia seguinte. A maior vergonha do futebol brasileiro. 

O resultado foi uma combinação do mal futebol tático e também técnico que o Brasil apresentou nesta copa, junto, ao emocional abalado pelo medo da eliminação, como aconteceu contra o Chile, pela necessidade de vitória da copa em casa, e também pela qualidade e ótimo futebol que a seleção alemã apresentou. E como muitos disseram, já não era a primeira vez que a Alemanha chegava forte, pois já havia demonstrado em Copas e Eurocopas, chegando as semifinais em todas as duas últimas edições de cada competição. Isto após uma revolução no modo de pensar o futebol alemão a partir de 2000, algo que pode ser conferido melhor nesta ótima reportagem

Por outro lado, tal resultado tem de ser encarado como o ponto final de uma parte da história do futebol brasileiro, não só pela humilhação em casa, mas por tudo o que o futebol brasileiro, dos campeonatos às categorias de base, tem apresentado. Como bem definiu Leonardo Bertozzi em seu blog na ESPN, 14 de julho deveria ser o dia zero do futebol brasileiro. O Bom Senso F.C. está aí para lutar por uma parte daquilo que o futebol brasileiro precisa. E isso também será assunto neste blog.

Nenhum comentário:

Postar um comentário